por onde andará meu pensamento...
Me espanto, me assusto e me alegro com os caminhos que de vez em quando encontro nos meus pensamentos...



domingo, 20 de dezembro de 2009

C'est fini...

Ah que ano... nem me deixou escrever aqui mais algumas palavras... agora que acaba, escrevo os desejos para o próximo ano...

Embriagar, seja aqui ou lá...

Il faut être toujours ivre. Tout est là: c’est l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous réveillez, l’ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l’étoile, l’oiseau, l’horloge, vous répondront: “Il est l’heure de s’enivrer!

Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse!

De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.

“É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.

Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.

E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: “É hora de embriagar-se!

Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar!

De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser”.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

passa ou repassa?
pago.

Meu sonho era participar do passa ou repassa. Ou do ponto-a-ponto. Lembra do ponto-a-ponto? Eu vivia cada momento. Torcia a cada prova. Às vezes pros meninos, às vezes pras meninas. Não importava muito. Ou importava pros outros e pra mim. Mas isso é outro assunto.

Mas mesmo assim, o que passa é outra coisa. O passa ou repassa é um refúgio. Ou melhor uma fuga! É isso, essa história de ponto-a-ponto foi um fuga. Não que não seja verdade.

Me desculpe se estou um bocado confuso hoje, mas é que avida faz isso com a gente. Não faz? Deixa a gente confuso. E olha que só usamos 10% do nosso cérebro. Mas o que isso tem haver? Não sei.

Alguém me liga? Alguma coisa muda (esse é um pedido). Corrijo: Alguma coisa muda pra melhor! (esse é um pedido sincero). Quand je pourrais être hereux? Je veux écrire quelque chose en français parce que je suis en train d'ouvrir de la musique française. Mais on a beaucoup de chose qui n'a pas correcte. Mais je ne suis pas bonne pour écrire ainsi.

Je suis très fatigué. Je suis au point de sortir de la maison sans destin. Les fabuleux destin d"Ameli Poulain. Je veux un fabuleux destin pour moi aussi. Porque eu escrevi em francês? Descobri agora, minha atenção para a escrita foi tanta que esqueci de mim mesmo. E esse é quase sempre meu objetivo ao escrever.

Aujord'ui, bonjour pour tous les personnes. Tem coisas que só fazem sentido escrita em tal lingua. Eu não escreveria o que escrevi aqui em português.

Chega. Você vai continuar lendo meus escritos porcos?


domingo, 2 de agosto de 2009

Mais um pensamento... esse veio do Rio de Janeiro

Acorda mané! Vira esse jogo, se alimente, se levante: "levante e brilhe"... É assim força vital na vida.
Brilho nos olhos...
Eu preciso de brilho nos olhos. Nós precisamos de brilho nos olhos. Olhar com os olhos vivos, sinceros e desejosos de descobrir a vida a cada dia.
Assim deveria ser. Assim será! Por favor, querido amigo, não espere as coisas passarem, aproveite. Por favor, querido amigo, levante e brilhe.
Cara, aproveite o tempo. Você sabe o que deve fazer.
Viver cada dia de verdade. É tão difícil mas é exatamente isso. Vivace!
Não necessariamente depressa, mas vivo. Nada do morto-vivo que por vezes vive por longos peírodos... Vai sem medo.
Se sinta melhor em pelo menos uma coisa, surpreenda-se.
Eu preciso me surpreender.

_Essas palavras se dirigem apenas a mim mesmo... mas se alguém quiser tomá-las para si, fique à vontade.

sábado, 18 de julho de 2009

Carta nº 3

Ah Dorotéia...

Não consigo conter minha alegria por receber tua carta. Imagino o quanto seja difícil para ti. E compreendo, ao menos tento, entender tua situação.
Que bom saber notícias tuas! Diga ao Paulinho para ficar mais atento quando ver uma escada a partir de agora, para evitar outros acidentes. E lhe mande melhoras também, por favor.
Que bom saber também que conseguiu um bom emprego. Tu me achavas capitalista demais, mas isso de fato faz diferença na qualidade de vida da gente.
Encontrei outro dia com o José Ricardo. Foi demitido com a crise. Imaginas o que ele estava fazendo? Estava como perueiro. Isso mesmo, Dorinha... "Peruas". Esse transporte ilegal de passageiros para fugir do onibus coletivo. Imaginas o José Ricardo fazendo alguma coisa ilegal?
O tempo e as circunstâncias mudam a vida da gente. E como mudam!

Mande lembranças minhas à família, se achares que deve, é claro. Estarei novamente ancioso por uma resposta.

Eusébio.

P.s. Confesso: uma lágrima escorreu ao ver o envelope com teu nome.



sábado, 11 de julho de 2009

O tempo...

O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora, inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento. Sem medida que eu conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza. Não tem começo, não tem fim. Rico não é o homem que coleciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende as mãos e braços em terras largas. Rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura. Não se rebelando contra o seu curso. Brindando antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira. O equilíbrio da vida está essencialmente neste bem supremo. E quem souber com acerto a quantidade de vagar com a de espera que deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco de buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo, dá a justa 'atudeza' das coisas.

Raduan Nassar - LavourArcaica

Carta nº 2

Querida Dorotéia,

Não resiti lhe escrever estas palavras. Não faz muito tempo da última carta e nem recebi sua reposta ainda, aguardo. Mas hoje não venho dizer nada sobre aquilo. Vim dizer de mim.

Estou sorrindo. Sorrindo e chorando. Há muito não me sentia assim. Vivo. Lembrei-me de ti. Quando gargalhavas sempre escorria uma lágrima de teus olhos. Mas hoje quero falar de mim. Acordei e assiti a um filme. Embora a realidade não fosse minha, depois de terminado eu percebi que vivia. Tomei uma água como nunca. Olhei pela janela maravilhado, vi cada uma das folhas das árvores e não o borrão verde que costumamos ver quando estamos apressados e fora de nós mesmos. Me encantei pela vida hoje, Dorotéia. Que bom ter você aí para me ouvir. Ou me ler que seja. Espero que se encante pela vida. Se aquele Eusébio do passado fosse o Eusébio de hoje, tudo seria diferente, tenho certeza.

Eusébio.

P.s. Aguardo sua resposta com ansiedade.

só por hoje...


O que produz em nós um objeto artístico?! Tomado... Estou completamente tomado pelo que vi... Dessa vez foi um filme... É algo que me domina e me faz escrever essas palavras... Talvez um ensaio:

Que as imagens cubram de bem os homens. Que a dor seja um pulo pra paz. Que o efêmero seja compreendido e vivido. Hoje. Só me resta hoje. Só um dia. "O que você faria se só te restasse esse dia?" Bem, só por hoje eu não vou me preocupar com o futuro, só por hoje eu não vou me stressar, só por hoje eu vou acreditar em mim, só por hoje eu vou buscar ser feliz, só por hoje eu vou à luta, só por hoje eu vou sair por aí atrás de mim mesmo, só por hoje eu vou viver! Que vivam para o bem os homens de hoje. Que a sua busca não invada e acabe com a busca dos outros. Que o mundo se cubra de paz. Que a utopia deixe de ser utópica.
A produção de sentidos, de histórias, de pensamentos através de um filme. Algo completamente simples que se torna imensamente complexo em nossas mentes escorregadias. Nem todos anseiam como nós. Será que somos uma raça de pensamentos e raciocínios distintos? Envolvidos com as questões do mundo, o mundo me bate e me leva muito mais. O não dormir com a cabeça fritando de ideias, pensamentos. Ideias para levar, pra fazer, pra causar, pra assustar, pra encantar... Vivemos também de nossas ideias diárias... Afinal o que pensamos reverbera muito mais em nós do que o que acontece de fato. Muitas coisas acontecem.
Ah mundo! Ah homem! Me encanto e me espanto todas às vezes com suas ações depravadas, absurdas, surpreendentes, simples, bonitas, enfim... Só por hoje vou viver no encanto e tentar esquecer o espanto...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Carta nº 1

Querida Dorotéia,

Há muito não conversamos. Já pensei em te escrever por diversas vezes, mas tinha medo do que podias me responder. Afinal, nosso último encontro não foi tão agradável quanto das outras vezes. Decidi escrever quando percebi que o dia passava rápido, os anos mais ainda e que era preciso agir rápido. O tempo já me engole. Não sentes isso também?

Percebi logo que não podia mais esperar-te. Devia ir até você e dizer o que digo agora:

Me perdoe.

Não é preciso dizer mais nada. Tudo o que quero ouvir de tua boca é o perdão. Nosso passado, nossas alegrias, nossas lembranças virão como um furacão a partir daí. Mas por enquanto meu arrependimento me impede de pensar em como foi bom viver com você. Não sou muito hábil com as palavras, perdoe-me por isso também.

Espero ancioso uma resposta tua. És minha última esperança. Passaram muitos pela minha vida. Como passaram! Mas não fui capaz de fazer nenhum deles permanecer. Agora sei que a vida é muito mais do que a vida que vivi. E que a vida que vivi não é vida. A vida que vivi foi espera.

Cordialmente,

Eusébio.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

vamos...

Que se cruzem pela minha frente.
Que se atravessem por mim.
Que me levem.

Estradas. Trilhas. Lugares.
Conhecer, desbravar, correr, saltar, viver...
Viagens!
É preciso fazê-las. Quero fazer muitas durante a minha vida.

Quero ser rigoroso comigo na hora de me dar férias.
Nós precisamos de férias.
Mais que isso, nós precisamos expandir nossos limites.

É isso que eu devo fazer.
Viagem e vitalidade.
Acho que são parceiras.
É com elas que eu quero seguir.

Lá vou eu...

domingo, 5 de julho de 2009

aaauuuuUUU!!!

prostrado diante da tela: ouço... desejo colocar, tirar, arrancar algumas palavras de mim... não as suporto às vezes... assim como não suporto minha apatia diante da vida... tomado por princípios bestas, por escolhas tímidas, por comportamentos contraditórios me encontro exatamente naquilo que se chama animal... animal do tempo, animal da vida, animal de amor, animal inocente... até aqui tinha a profunda certeza de algo em mim me transformaria num ser humano... acreditava verdadeiramente na minha forma humana... assim como acreditava na humanidade...

utopicamente (um zeitgeist me obriga a usar essa palavra) ainda acredito... embora consciente de que não passamos de animais que se acham demais...

sem saber...

Ah, que seja doce... no fundo que seja sempre assim: DOCE! Mas às vezes não é... Utopias! Caminhos! O meu caminho. Que ansiedade a nossa em saber sempre aonde e como vai dar. Em resolver as coisas logo aos 21 anos.

Não saber o que quer da vida: uma hora isso tinha que chegar.

Que imensidão limitada!!! que medo de expandir, de atingir, de buscar, de alcançar... que coisa. Porque lá dentro o ímpeto, a chama da busca que apagar. Ah Winnnie!!! Somos todos você, conformados mesmo que inconscientemente... Me admira a vitalidade de alguns. O brilho com que vivem. Bom ou mal? Não sei. Mas de vitalidade eu queria viver. É preciso acordar e dizer: hoje é dia de viver! Viver. Que porra é essa? Mas e tudo isso é pra que mesmo?

sábado, 23 de maio de 2009

a levitação

_ Você sabe que essa é uma coisa que eu não consigo muito bem entender... eu falo de uma tristeza boa... de uma lágrima que escorre com um sorriso no rosto... mas que é mais que uma lágrima... é uma respiração, um estado de espírito, um jeito, uma coisa... sei lá... (risos) que tem tudo pra ser ruim, mas que consegue ser bom... entende?! é uma aperto no coração que dá vontade de cantar...

Pausa.

O que eu queria mesmo é que fosse sempre assim... que o meu aperto no coração sempre desse vontade de cantar e que minha lágrima sempre viesse com um sorriso... Olha, um turbilhão de coisa passa pela minha cabeça... Já reparou? Sempre passa um turbilhão de coisas pela minha cabeça... E é assim... às vezes eu prefiro ficar com o silêncio... (cantando) não, não sei se um truque banal... se um invisível cordão sustenta a vida real...

"Pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem, não vê que Deus fica até zangado vendo alguém abandonado pelo amor de Deus... Ao Nosso Senhor, pergunte se Ele produziu nas trevas o esplendor, se tudo foi criado - o macho, a fêmea, o bicho, a flor, criado para adorar o Criador... E se o Criador, inventou a criatura por favor, se do barro fez alguém com tanto amor, para amar Nosso Senhor... Não, Nosso Senhor, não há de ter lançado em movimento terra e céu, estrelas percorrendo o firmamento em carrossel, pra circular em torno ao Criador... Ou será que Deus, que criou nosso desejo é tão cruel, mostra os vales onde jorra o leite e o mel, e esses vales são de Deus... (Sobre todas as coisas - Chico Buarque e Edu Lobo)"

sábado, 9 de maio de 2009

Claro...

_ Clara, nós queremos falar com você?
_ Claro.
_ Porque vocês conversaram ontem? Qual é a mentira dessa vez?
_ Não tem nada, a gente...
_ Clara?!
_ Claro que ela não vai dizer!...
_ É melhor esclarecer as coisas entre nós, Clara...
_ Tudo não poderia estar mais claro.
_ Qual é o seu nome hein Clara?
_ Fala a verdade. Quem é você?
_ Tudo bem. Eu sou...
_ Claro.
_ O que?
_ É isso mesmo, meu nome é Claro.
_ É claro que ela está tentando nos enganar.
_ Isso não é tão claro assim. Clara, por favor...
_ Claro!
_ Clara, que história é essa?
_ Essa é uma história obscura...

domingo, 26 de abril de 2009

Drama

_ pensando um pouco ontem, pensei: por que não arriscar mais a escrever? que as pessoas que leiam minhas coisas que me digam para apagar o que for horrível, jogar no lixo... ou deixar as coisas perpetuarem um pouco por aqui...

_ desejo... é ver um texto meu em cena... no teatro... dramaturgia... por isso quero sair aí testando coisas... já escrevi algumas... se são boas ou ruins eu não sei... sei o que eu quero com elas ou delas... enfim... que esse seja meu drama daqui pra frente...


quarta-feira, 8 de abril de 2009

Desmaio.


As árvores espalham o perfume da fruta da temporada. As flores se abrem em constante harmonia e beleza, deixando o Parque amarelo, roxo, vermelho, rosa, verde e laranja. As azaléias, os lírios, as rosas, as begônias, os cravos, as margaridas, os ipês, os coqueiros. A chuva do dia anterior deixara o ambiente ainda mais agradável, as águas do lago estavam calmas e o sol brilhava por entre as folhas das árvores. Seu Dumerval já está no parque. A Aninha faz a sua caminhada diária. O mendigo da esquina tenta pegar uma fruta. O José Carlos chega com o algodão doce. O passarinho canta. Eu acabo de entrar no parque ainda sem saber tudo o que acontecerá comigo. A primeira coisa que eu faço é observar a minha sombra na água. Vejo meus olhos castanhos, meus cabelos, minha boca, minha camisa amarela, minha calça jeans, só não vejo meus sapatos, mas posso garantir que eles são pretos e sem verniz. De repente, não sei bem porque, alguma coisa me faz olhar para trás, e eu olho.
Olho e não tenho muito foco das coisas que eu vejo, vejo tudo e ao mesmo tempo nada, vejo vultos. Aos poucos, coisa de segundos, eu já consigo distinguir em meio a todas aquelas imagens, aquela a que eu devia olhar com todo o meu amor. Uma mulher. Jovem. Linda. Muito mais bonita que a Aninha. Ela vem em minha direção. E eu continuo paralisado, sem ação. Escuto o canto dos pássaros e os passos da minha amada. Não é amor à primeira vista. É amor. Só e simplesmente, como jamais senti. Algo que me faria fazer qualquer coisa. Inexplicável. Dou-me conta, então, de que ela já está a poucos metros de mim. Linda. Vindo em minha direção. Fecho os olhos como que com medo de encarar o meu amor que era muito puro de longe. Todo o meu medo era quebrar com essa atmosfera que me envolvia. E mais uma vez os meus olhos olharam sem eu nada poder fazer para impedir. E eu a vi na minha frente. E senti o seu abraço. De olhos fechados não pude acreditar que abraçava alguém. Ao abrir os olhos eu a vejo na minha frente e desmaio.
(Passa-se o tempo)
Abro os olhos. O que vejo é o céu sem nuvens, azul e uma luz forte que deve ser o sol. Parece que estou ainda no parque, mas não tenho coragem de saber isso. Um passarinho passa na minha frente e eu me levanto com seu impulso voador. O que vejo é o parque. O seu Dumerval, a Aninha, os outros ainda estão aqui. Eu posso ver cada um. Menos a mulher que me fez cair em sono profundo não sei por quanto tempo. Ouço uma voz sussurrada que diz:
_ Você precisa de ajuda?
Era ela.
Pude ver nos seus olhos o meu amor. Respondi:
_ Agora estou bem. Não esperava que você fosse me dar aquele abraço. Achei que você estaria somente nos meus sonhos, porque eu jamais iria chegar para te dizer um “oi”. Você é tão linda. Perdoe-me o desmaio, mas você sabe que essas coisas a gente não controla. Deixe-me levantar.
Levanto-me e olho nos fundos dos seus olhos, e vejo uma mulher que não consegue entender as minhas palavras.
_ Me desculpa, mas eu não estou entendendo. Era eu quem estava parada aqui quando de repente você veio correndo, eu fiquei paralisada de medo, não consegui reagir. Você chegou mais perto e então me abraçou. Não entendi, mas me aliviou um pouco. Acreditei que você não queria mal a mim, e então quando fui te perguntar o que aquilo significava você desmaiou. Apagou. E permaneceu cinco minutos assim. Acho que os mais longos minutos da minha vida.
Eu não podia acreditar. Aquelas palavras não podiam ser verdade. Ela estava era com vergonha de dizer que quis me abraçar, e que fez isso num ato sem pensar. E como eu havia desmaiado ela poderia aproveitar para me enganar.
_ Pode dizer que te deu uma vontade súbita de me abraçar e você fez isso. E agora está morrendo de vergonha.
_ Você está doido? Você é que tem que assumir o que fez. E me pedir desculpa ainda por cima.
Penso, então: um dia vamos saber o que de fato aconteceu aqui, no entanto não sei se isso é importante nesse momento. Tudo o que eu quero é abraçá-la novamente. E acho que é isso que ela quer também. Abraçamos-nos ali mesmo. E a gente não se soltou até agora.
_ Ai meu Deus!
Ela acaba de desmaiar. Cinco minutos.

Desejo.

Percorria toda a extensão do seu corpo sem vida. Limpava cada parte com cuidado. Me deliciava com o poder de dominar um corpo. Atrás da escuridão sombria na noite de céu estrelado, avistei claramente os olhos castanhos, com as sombras dos cílios, da mulher, do corpo que agora era meu. Somente meu. O cheiro de suor e de perfume me conduzia novamente aos seios de minha mãe, mas ela não me abraçava, não podia por estar morta. Percebo que o frio que me toma é o frio real. Saio do transe e fico enjoado ao ver a boca vermelha de sangue da minha mulher nua. Sorria com sua expressão feliz, mas não posso mais deseja-la. Procuro o desejo que se perdeu no real. Me levanto. Vou-me embora. Procuro o meu corpo e só encontro devaneios. Vejo as suas imagens belas. São fotografias. Mas não apareço nelas. Estou ausente de mim mesmo. Invejo os homens. Procuro corpos ausentes como o meu. Encontro. Desejo. Rasgo. O pão nosso de cada dia.

deixa...

Deixa o sorriso que um dia você vai encontrá-lo...
O sorriso é o futuro... Mesmo que não seja agora... O sorriso é um acaso... às vezes você encontra e fica grudado nele... às vezes não...
É preciso aprender a deixar o sorriso grudado... Junto. Colado. Feito tatuagem. Uma tatuagem na face.

Hoje eu pensei qual o caminho deveria fazer... A gente pensa sempre e muito... Queria percorrer meu caminho, em busca do sorriso, sem muito pensar...
Dizem que o sorriso se esconde no acaso.
E o acaso foge da razão. E a razão está grudada em mim.
Você diz isso como uma coisa que dói. Mas isso não dói. Saber o lugar do sorriso já é ser campeão. Agora é simples. É só encontrá-lo.

Se eu soubesse que ele poderia escapar tão facilmente... Naquele dia, naquele lindo dia em que ele marcou minha face, deformou meu rosto, iluminou minha alma... Eu deveria, sim, eu deveria tê-lo grudado em mim. Mas como?
Naquele dia... Naquele dia aquele seu sorriso não ficou porque você o rejeitou... É verdade, você disse: "Será?" Como você pode perguntar "será" ao sorriso? Ele havia te preenchido, era claro e você diz, “será?”. Eu também não o tenho comigo... Não que eu não quisesse. Mas é que comigo não aconteceu.
Dizem que pelo menos uma vez na vida acontece.
Será?
Você disse “será”? E eu senti um leve movimento em seus lábios.
O momento pode ser qualquer não tem como a gente prevê. Não tem como a gente olhar e descobrir. É o acaso. E nós não sabemos lidar com o acaso.
Um dia eu estava em casa. Aparentemente sem fazer nada. Naquele dias em que você chega em casa, pula sobre a cama, liga o som, baixinho... e deixa a música entrar... deixa o som e os pensamentos passarem e reverberarem pelo seu corpo... Deixa o acaso agir e de repente... você está com a máscara no rosto... Não é sempre assim... E talvez se vocês fizerem isso de caso pensado pode ser que ele não venha. Então esqueçam isso... Esqueçam e deixem que o acaso trabalhe para que um dia vocês saltem sobre a cama...

Eu nunca saltei sobre a cama.
Muitas pessoas não saltaram. E chega um tempo, chega um tempo em que saltar sobre a cama fica muito dificultoso. Esse comportamento parece não ser digno de você naquele momento... Como? Quem julga o que é digno? Saltem sobre a cama. É só isso que eu digo. E sem medo... Saltem sobre a cama sem medo que quebrá-la... Por que se isso acontecer será uma dádiva do acaso e motivo para muitos sorrisos...
Saltem sobre a cama. Enlouqueçam.
Eu queria sair por aí enlouquecido. Gritar, sentir, pegar, beijar, sorrir (risos)... Que queria sair por aí enlouquecendo... brincando e varrendo, e cortando... e regando... e amando... e pulando... e dançando... e cantando... e fazendo aquilo que eu quisesse fazer... por que pra que a vida senão para fazer aquilo que o acaso prepara?

Por que pra que a vida senão para fazer aquilo que o acaso prepara?

Um sorriso.
(sorrindo) Os planos do acaso se farão para nós... De algum jeito... de algum jeito... sorriam sem forçar nenhum sorriso... é algo do acaso... por que vocês estão aqui... lendo ou escutando isso... porque? É o acaso... deixa vir o sorriso... ele toma conta de você... Agora, gruda nele... Gruda nele... E enlouqueça... com o sorriso na face... enlouqueça... deixa tomar conta... feche os olhos sinta os músculos da face tomando cada parte... os olhos ficando menores... olhos um pouco embaçados pelas lágrima que sai com o sorriso... feche os olhos e sinta.
E gruda...
Não esquece de grudar... De convidá-lo para voltar sempre... que viva o acaso... Que venham histórias, casos, sorrisos... Que a lua abra um sorriso, que o gato sorriso, que o bebê sorria, que o homem deixe o acaso de manifestar... Deixe o acaso se manifestar em cada momento... e a cada momento um sorriso... como o de agora a pouco... o de agora... não importa o motivo... não questione o motivo... assim é o sorriso... o riso... o mundo...
E se não é assim?
E quando não é assim?
Porque não é assim?
Pergunte ao acaso... E acredita que isso aqui também é um acaso... esse encontro de nós dois, esse encontro de nós mesmos, esse encontro com todos nós... esse encontro com o acaso...
Um sorriso.
Uma lupa.
Um olhar.
Um guindaste.
Um passante.
Uma pétala.
Um biscoito.
Um encontro.
Acasos... sorrisos... histórias... memórias... pessoas... e sorriso... e acasos... casos... histórias... pessoas... encontros... ah, e sorriso... sorrisos... gente... encontros... memórias... lugares... palavras... lugares... imagens... retina... sentidos... sentido... loucura... acaso... loucura... desejo... desejo... amor... amor... história... sorrisos... memórias... acasos... lugares... memórias... acasos... sorrisos...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

rastros

um navio deixa rastros...
eu deixo rastros...
você deixa rastros...

mas eu não consigo ver os meus rastros em você...
quisera eu ver os meus rastros em você,
e te mostrar o tamanho dos seus rastros em mim...

como o rastro do navio...

Sensação

Estava só. Talvez acompanhado por anjos que ali estavam. Estar só nesse momento e naquele lugar representava mais do que estar simplesmente só. Significava experimentar de um universo até então desconhecido. Significava ser...
Não sei bem ao certo o momento em que aquela mão me tocou. Só sei que juntos, eu e aquela sensação, vivemos os melhores momentos das nossas vidas.
Quem me dera poder recruzar os caminhos e saber que aquele toque haveria novamente.
Só isso...
Estar a altura de receber de novo a companhia de uma sensação.
Maravilhosa presença esta que de repente sumiu e eu me vi sozinho, não mais só acompanhado...
Ah... Depois de todo o acontecimento descobri que nada é na verdade o que importa.
Quem diria que eu na minha cama, no escuro do quarto, no silêncio de uma noite sem lua, pudesse ser acompanhado por uma sensação.

Partir.


Quando partires não leves embora o meu coração. Preciso dele para viver. Se partires não leves os meus beijos, nem os meus abraços, eles serão meu porto seguro neste mundo. Partindo, não leves apenas o meu coração, os meus beijos e os meus abraços, me leve junto para que juntos possamos nos roubar todos os dias as partes fundamentais de nós mesmos para que nunca mais nos separemos. Juntos, o mundo sofrerá a inquietude de nossas almas juntas e lutará para separá-las. Irresistivelmente nossas almas vão se separar, o mundo é mais forte. E sem beijos, sem abraços e sem coração, ousaremos dizer que agora amamos e poderemos até roubar beijos e abraços sem ter os mesmos para serem roubados. Por fim, digo apenas que o mundo sofre porque ele é o responsável pelo sofrimento. O sofrimento de ver tantos corações, abraços e beijos à procura dos seus donos. Procura que jamais se findará.

05 de ...


Sabe, hoje o dia passou tranquilo. Tranquilo como eu queria que passasse a vida.
_Bom dia! eu disse.
_ Bom dia! Eles disseram.
Sorrisos, entremeados de olhares livres, abertos, calmos. Bonito. O que eu via era simples e bonito.
Mas agora meu coração apertou. Você sabe, o coração aperta quando a agente não espera. Comigo é sempre assim. Sempre. Apertos inesperados. Sufocamente repentino. E o prenúncio de uma lágrima nos olhos.
A vida. Comemorar e festejar uma vida. Sorrir. Abraçar. Ter esperança. Comigo é sempre repentino também a esperança. Esperança súbita. Mas que me leva.
Hoje eu acordei pronto pra vida. E vou dormir com receios do que ela prepara pra mim. Há sufocamente e esperança. Eles se anulam e eu fico no nada.
Hoje eu queria te contar uma história. Queria ir para o micro ou para o macro. Mas o meu eu me prende em mim mesmo. E eu já não tenho forças pra lutar. Obrigado por me ouvir. De verdade. quando você chegou eu pensei: _Ainda bem! (Foi essa a hora da esperança). E foi aí que eu disse _Sabe. Tranquilo.
Porque eu sou daqueles que gostam de eufemismos. Sim, eu sou. Eu sou daqueles que se enganam. Que se sabotam. Eu sou daqueles que dizem que o dia foi tranquilo.
Pode parercer estranho mas eu insisto: eu queria contar uma história. Uma história de crianças. Daquelas que surpreendem a gente pela energia, pela simpatia, pela graça, pela vida. Eu queria te contar da vida na criança. Falar um caso engraçado, como o da menina que tem ciúmes dela meam no espelho. Falar de sonhos, de apresentação na escola, de filmes, de promessas, de descobertas, de vida. É isso, eu queria contar uma história de vida.
Mas meu ser está um pouco sem vida pra isso. Não. Ele está muito sem vida pra isso. Eu estou muito sem vida pra isso. eu estou muito. Muito. Muito cheio de saco do eufemismo barato. Muito sem acreditar no homem. Na vida. É isso. eu não confio no homem pra lutar por ele. Nem sei se confio em mim, pra lutar por mim mesmo.
Me desculpa. Eu queria escrever algo que trouxesse uma esperança ao menos súbita. Mas acho que minhas palavras só trazem sufocamento. A minha esperança súbita é que você não seja como eu. Que você se chateie com pessoas como eu e vá a luta pra tentar "esperançá-las". Eu torço para que você, nesse silêncio, possa esperançar o coração do homem. Possa esperançar meu coração. Como eu tentei aqui mas não pude. Era preciso que eu dissesse isto. E apenas isto.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

metaescrito

e era assim... simplesmente dessa forma como eu tentava desesperadamente me esconder de mim mesmo... escapar das minhas entranhas... correr... brincar de esconde-esconde comigo mesmo... era assim... escrevendo... eu sentava diante da folha de papel e rabiscava ali qualquer pensamento, qualquer bobagem, qualquer coisa que me salta-se a mente... e era ali meu esconderijo mais secreto...

ali eu me achava e me escondia por várias vezes... durante horas... dias até... querendo ao máximo cumprir uma função no jogo: a de esconder... a minha mente (ativa e delirante) tratava de ser a mais cruel procuradora de homens instáveis... era assim... não só era, como ainda é...

há pouco quando cheguei do mundo lá fora, me vi instável, inseguro, arrombado... como se tivessem tirado de mim algo indispensável... que desestabiliza... que incomoda e que até (pausa)... até dói... e foi há pouco quando pensei que deveria desesperadamente encontrar o que havia perdido... mais uma vez num jogo de esconde-esconde... onde eu era o procurador. mas enquanto isso... a cruel procuradora insistia em me achar... ativa e delirante... sempre ela... me impediando que ultrapassasse qualquer coisa...

e há pouco eu chorei... porque me via num buraco sem saída. num poço profundo e sem luz, que com a chuva lá fora começava a encher devagar, até... (pausa) é duro pensar... sempre é duro pensar... é assim... duro... cruel... agressivo com nós mesmo... e agora depois de chorar: penso.

e penso que quem pensa sou eu... e disparo a tentar controlar infinitamente os meus escritos, as minhas palavras... com palavras esperançosas para um possível leitor, com palavras de amor, de luta, de auto-controle... tento até dar uma receita de como se esconder melhor uma situação como essa... se controlando os pensamento, se deixando-os passar, se parando de pensar, se... (pausa) se... (pausa) se... (longa pausa)

mas eu não dou conta! dou conta sim de dizer que é difícil, que é doloroso e que é cruel pensar... e que eu queria por um momento na vida parar de pensar... sim eu queria ser como um animal irracional... para não me maltratar, para não me machucar, para não me ferir... porque ninguém me fere mais nessa vida do que eu mesmo... tudo porque eu penso... e é inevitável pensar... é inevitável... (pausa) e quando paro como numa pausa, não porque há ausência de pensamentos... NÃO. é porque há tantos pensamentos que não é possível ordená-los... não é possível descrevê-los... e é por isso... que se torna ainda mais dolororoso esse jogo de esconde-esconde... nada parecido com os meus divertidos e longos jogos de esconde-esconde na rua com meus amiguinhos... ou seria até melhor se fosse como nos meus pesadelos, em que, apesar de tudo, eu nunca era encontrado...

e é assim... cheio de pensamentos que não consigo mais escrever... que não consigo mais esconder de mim mesmo... simplesmente meus métodos de camuflagem foram identificados pela "ativa e delirante"... e eu paro de escrever... não que os pensamentos tenham parado, mas é que já não consigo fugir de mim mesmo assim... mas fica uma coisa... quando é que os pensamentos param? quando é que...? quando? qnd? q? ?

(eu tento mas eles não param.)