
As árvores espalham o perfume da fruta da temporada. As flores se abrem em constante harmonia e beleza, deixando o Parque amarelo, roxo, vermelho, rosa, verde e laranja. As azaléias, os lírios, as rosas, as begônias, os cravos, as margaridas, os ipês, os coqueiros. A chuva do dia anterior deixara o ambiente ainda mais agradável, as águas do lago estavam calmas e o sol brilhava por entre as folhas das árvores. Seu Dumerval já está no parque. A Aninha faz a sua caminhada diária. O mendigo da esquina tenta pegar uma fruta. O José Carlos chega com o algodão doce. O passarinho canta. Eu acabo de entrar no parque ainda sem saber tudo o que acontecerá comigo. A primeira coisa que eu faço é observar a minha sombra na água. Vejo meus olhos castanhos, meus cabelos, minha boca, minha camisa amarela, minha calça jeans, só não vejo meus sapatos, mas posso garantir que eles são pretos e sem verniz. De repente, não sei bem porque, alguma coisa me faz olhar para trás, e eu olho.
Olho e não tenho muito foco das coisas que eu vejo, vejo tudo e ao mesmo tempo nada, vejo vultos. Aos poucos, coisa de segundos, eu já consigo distinguir em meio a todas aquelas imagens, aquela a que eu devia olhar com todo o meu amor. Uma mulher. Jovem. Linda. Muito mais bonita que a Aninha. Ela vem em minha direção. E eu continuo paralisado, sem ação. Escuto o canto dos pássaros e os passos da minha amada. Não é amor à primeira vista. É amor. Só e simplesmente, como jamais senti. Algo que me faria fazer qualquer coisa. Inexplicável. Dou-me conta, então, de que ela já está a poucos metros de mim. Linda. Vindo em minha direção. Fecho os olhos como que com medo de encarar o meu amor que era muito puro de longe. Todo o meu medo era quebrar com essa atmosfera que me envolvia. E mais uma vez os meus olhos olharam sem eu nada poder fazer para impedir. E eu a vi na minha frente. E senti o seu abraço. De olhos fechados não pude acreditar que abraçava alguém. Ao abrir os olhos eu a vejo na minha frente e desmaio.
(Passa-se o tempo)
Abro os olhos. O que vejo é o céu sem nuvens, azul e uma luz forte que deve ser o sol. Parece que estou ainda no parque, mas não tenho coragem de saber isso. Um passarinho passa na minha frente e eu me levanto com seu impulso voador. O que vejo é o parque. O seu Dumerval, a Aninha, os outros ainda estão aqui. Eu posso ver cada um. Menos a mulher que me fez cair em sono profundo não sei por quanto tempo. Ouço uma voz sussurrada que diz:
_ Você precisa de ajuda?
Era ela.
Pude ver nos seus olhos o meu amor. Respondi:
_ Agora estou bem. Não esperava que você fosse me dar aquele abraço. Achei que você estaria somente nos meus sonhos, porque eu jamais iria chegar para te dizer um “oi”. Você é tão linda. Perdoe-me o desmaio, mas você sabe que essas coisas a gente não controla. Deixe-me levantar.
Levanto-me e olho nos fundos dos seus olhos, e vejo uma mulher que não consegue entender as minhas palavras.
_ Me desculpa, mas eu não estou entendendo. Era eu quem estava parada aqui quando de repente você veio correndo, eu fiquei paralisada de medo, não consegui reagir. Você chegou mais perto e então me abraçou. Não entendi, mas me aliviou um pouco. Acreditei que você não queria mal a mim, e então quando fui te perguntar o que aquilo significava você desmaiou. Apagou. E permaneceu cinco minutos assim. Acho que os mais longos minutos da minha vida.
Eu não podia acreditar. Aquelas palavras não podiam ser verdade. Ela estava era com vergonha de dizer que quis me abraçar, e que fez isso num ato sem pensar. E como eu havia desmaiado ela poderia aproveitar para me enganar.
_ Pode dizer que te deu uma vontade súbita de me abraçar e você fez isso. E agora está morrendo de vergonha.
_ Você está doido? Você é que tem que assumir o que fez. E me pedir desculpa ainda por cima.
Penso, então: um dia vamos saber o que de fato aconteceu aqui, no entanto não sei se isso é importante nesse momento. Tudo o que eu quero é abraçá-la novamente. E acho que é isso que ela quer também. Abraçamos-nos ali mesmo. E a gente não se soltou até agora.
_ Ai meu Deus!
Ela acaba de desmaiar. Cinco minutos.
Sensacional...!!!!
ResponderExcluirUm desmaio...Cinco minutos...amor.Confusão!
rs