por onde andará meu pensamento...
Me espanto, me assusto e me alegro com os caminhos que de vez em quando encontro nos meus pensamentos...



sábado, 18 de julho de 2009

Carta nº 3

Ah Dorotéia...

Não consigo conter minha alegria por receber tua carta. Imagino o quanto seja difícil para ti. E compreendo, ao menos tento, entender tua situação.
Que bom saber notícias tuas! Diga ao Paulinho para ficar mais atento quando ver uma escada a partir de agora, para evitar outros acidentes. E lhe mande melhoras também, por favor.
Que bom saber também que conseguiu um bom emprego. Tu me achavas capitalista demais, mas isso de fato faz diferença na qualidade de vida da gente.
Encontrei outro dia com o José Ricardo. Foi demitido com a crise. Imaginas o que ele estava fazendo? Estava como perueiro. Isso mesmo, Dorinha... "Peruas". Esse transporte ilegal de passageiros para fugir do onibus coletivo. Imaginas o José Ricardo fazendo alguma coisa ilegal?
O tempo e as circunstâncias mudam a vida da gente. E como mudam!

Mande lembranças minhas à família, se achares que deve, é claro. Estarei novamente ancioso por uma resposta.

Eusébio.

P.s. Confesso: uma lágrima escorreu ao ver o envelope com teu nome.



sábado, 11 de julho de 2009

O tempo...

O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora, inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento. Sem medida que eu conheça, o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza. Não tem começo, não tem fim. Rico não é o homem que coleciona e se pesa num amontoado de moedas, nem aquele devasso que estende as mãos e braços em terras largas. Rico só é o homem que aprendeu piedoso e humilde a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura. Não se rebelando contra o seu curso. Brindando antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira. O equilíbrio da vida está essencialmente neste bem supremo. E quem souber com acerto a quantidade de vagar com a de espera que deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco de buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo, dá a justa 'atudeza' das coisas.

Raduan Nassar - LavourArcaica

Carta nº 2

Querida Dorotéia,

Não resiti lhe escrever estas palavras. Não faz muito tempo da última carta e nem recebi sua reposta ainda, aguardo. Mas hoje não venho dizer nada sobre aquilo. Vim dizer de mim.

Estou sorrindo. Sorrindo e chorando. Há muito não me sentia assim. Vivo. Lembrei-me de ti. Quando gargalhavas sempre escorria uma lágrima de teus olhos. Mas hoje quero falar de mim. Acordei e assiti a um filme. Embora a realidade não fosse minha, depois de terminado eu percebi que vivia. Tomei uma água como nunca. Olhei pela janela maravilhado, vi cada uma das folhas das árvores e não o borrão verde que costumamos ver quando estamos apressados e fora de nós mesmos. Me encantei pela vida hoje, Dorotéia. Que bom ter você aí para me ouvir. Ou me ler que seja. Espero que se encante pela vida. Se aquele Eusébio do passado fosse o Eusébio de hoje, tudo seria diferente, tenho certeza.

Eusébio.

P.s. Aguardo sua resposta com ansiedade.

só por hoje...


O que produz em nós um objeto artístico?! Tomado... Estou completamente tomado pelo que vi... Dessa vez foi um filme... É algo que me domina e me faz escrever essas palavras... Talvez um ensaio:

Que as imagens cubram de bem os homens. Que a dor seja um pulo pra paz. Que o efêmero seja compreendido e vivido. Hoje. Só me resta hoje. Só um dia. "O que você faria se só te restasse esse dia?" Bem, só por hoje eu não vou me preocupar com o futuro, só por hoje eu não vou me stressar, só por hoje eu vou acreditar em mim, só por hoje eu vou buscar ser feliz, só por hoje eu vou à luta, só por hoje eu vou sair por aí atrás de mim mesmo, só por hoje eu vou viver! Que vivam para o bem os homens de hoje. Que a sua busca não invada e acabe com a busca dos outros. Que o mundo se cubra de paz. Que a utopia deixe de ser utópica.
A produção de sentidos, de histórias, de pensamentos através de um filme. Algo completamente simples que se torna imensamente complexo em nossas mentes escorregadias. Nem todos anseiam como nós. Será que somos uma raça de pensamentos e raciocínios distintos? Envolvidos com as questões do mundo, o mundo me bate e me leva muito mais. O não dormir com a cabeça fritando de ideias, pensamentos. Ideias para levar, pra fazer, pra causar, pra assustar, pra encantar... Vivemos também de nossas ideias diárias... Afinal o que pensamos reverbera muito mais em nós do que o que acontece de fato. Muitas coisas acontecem.
Ah mundo! Ah homem! Me encanto e me espanto todas às vezes com suas ações depravadas, absurdas, surpreendentes, simples, bonitas, enfim... Só por hoje vou viver no encanto e tentar esquecer o espanto...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Carta nº 1

Querida Dorotéia,

Há muito não conversamos. Já pensei em te escrever por diversas vezes, mas tinha medo do que podias me responder. Afinal, nosso último encontro não foi tão agradável quanto das outras vezes. Decidi escrever quando percebi que o dia passava rápido, os anos mais ainda e que era preciso agir rápido. O tempo já me engole. Não sentes isso também?

Percebi logo que não podia mais esperar-te. Devia ir até você e dizer o que digo agora:

Me perdoe.

Não é preciso dizer mais nada. Tudo o que quero ouvir de tua boca é o perdão. Nosso passado, nossas alegrias, nossas lembranças virão como um furacão a partir daí. Mas por enquanto meu arrependimento me impede de pensar em como foi bom viver com você. Não sou muito hábil com as palavras, perdoe-me por isso também.

Espero ancioso uma resposta tua. És minha última esperança. Passaram muitos pela minha vida. Como passaram! Mas não fui capaz de fazer nenhum deles permanecer. Agora sei que a vida é muito mais do que a vida que vivi. E que a vida que vivi não é vida. A vida que vivi foi espera.

Cordialmente,

Eusébio.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

vamos...

Que se cruzem pela minha frente.
Que se atravessem por mim.
Que me levem.

Estradas. Trilhas. Lugares.
Conhecer, desbravar, correr, saltar, viver...
Viagens!
É preciso fazê-las. Quero fazer muitas durante a minha vida.

Quero ser rigoroso comigo na hora de me dar férias.
Nós precisamos de férias.
Mais que isso, nós precisamos expandir nossos limites.

É isso que eu devo fazer.
Viagem e vitalidade.
Acho que são parceiras.
É com elas que eu quero seguir.

Lá vou eu...

domingo, 5 de julho de 2009

aaauuuuUUU!!!

prostrado diante da tela: ouço... desejo colocar, tirar, arrancar algumas palavras de mim... não as suporto às vezes... assim como não suporto minha apatia diante da vida... tomado por princípios bestas, por escolhas tímidas, por comportamentos contraditórios me encontro exatamente naquilo que se chama animal... animal do tempo, animal da vida, animal de amor, animal inocente... até aqui tinha a profunda certeza de algo em mim me transformaria num ser humano... acreditava verdadeiramente na minha forma humana... assim como acreditava na humanidade...

utopicamente (um zeitgeist me obriga a usar essa palavra) ainda acredito... embora consciente de que não passamos de animais que se acham demais...

sem saber...

Ah, que seja doce... no fundo que seja sempre assim: DOCE! Mas às vezes não é... Utopias! Caminhos! O meu caminho. Que ansiedade a nossa em saber sempre aonde e como vai dar. Em resolver as coisas logo aos 21 anos.

Não saber o que quer da vida: uma hora isso tinha que chegar.

Que imensidão limitada!!! que medo de expandir, de atingir, de buscar, de alcançar... que coisa. Porque lá dentro o ímpeto, a chama da busca que apagar. Ah Winnnie!!! Somos todos você, conformados mesmo que inconscientemente... Me admira a vitalidade de alguns. O brilho com que vivem. Bom ou mal? Não sei. Mas de vitalidade eu queria viver. É preciso acordar e dizer: hoje é dia de viver! Viver. Que porra é essa? Mas e tudo isso é pra que mesmo?