por onde andará meu pensamento...
Me espanto, me assusto e me alegro com os caminhos que de vez em quando encontro nos meus pensamentos...



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Shakespeare

Como o sangue que sai das veias empapadas de suor... como a alma que vibra pela cena que passa... como a nuvem que enlouquece formando desenhos mil para desejosos aventureiros que querem ver desenhos no céu... como o perfume que brota da casca da árvore raspada e retirada da sua dona mais gentil... como um soneto que é incapaz de atravessar o jovem coração que não sabe o quanto aquilo é importante, bonito, tocante... e que não importa se é ou não é realidade... porque existimos exatamente para ultrapassar qualquer barreira de realidade... porque precisamos de algo muito além da realidade que só uma arte minimamente arte poderia dar... como uma flor que brota despercebida em meio a folhas e cresce e solta perfume e descobre depois de um tempo que é ela o motivo, a razão, o foco, o ponto central de tudo... como a flor que se percebe a mais bela em meio as folhas verdes, cortadas, sujas de terra... ela a flor se descobre rainha porque assim foi feita para ser... as minhas flores brotam mas não se descobrem rainhas porque eu que sou a raíz não acredito na potencialidade das minhas pequenas flores... é preciso olhar para tudo isso com o olhar daquele que descobre o fogo, que descobre que as lágrimas caem sempre que ele acha que tem alguma coisa importante a dizer e corre pra frente do computador escrevendo rápido como se soubesse o que escrevia e como se tivesse encontrado o ouro, a cura da doença terrível... como o olhar daquele que descobre... que descobre simplesmente...

"Pois é na arte que o homem se ultrapassa definitivamente" (Simone de Beauvoir)

não leio o que escrevo... não leio porque quero que as palavras que ouço de Lavoura Arcaica penetrem substancialmente nessas palavras sem sentido, cheias de som e fúria significando nada... chega de superficialidades vãs... que o meu teatro seja tomado de paixão... que o dinheiro que eu pretendo ganhar não seja barreira para lutar... para fazer o que eu amo... que o meu ser sabe que o poder dessa onda é muito maior do que qualquer coisa material... que o sentido seja muito mais rico e muito maior do que qualquer coisa que me impeça de dizer que é preciso ir além... é preciso ir muito além... é preciso dizer essas coisas não ditas... é preciso que eu diga essas coisas não ditas... e é preciso que eu coloque tudo isso nisso que se chama arte... eu preciso me ultrapassar... e isso não deve ser um plano para quando alguém chegar de viagem... ou para quando o momento certo chegar... os personagens não esperam... a dramaturgia tem urgência... o mundo clama por uma mudança profunda mesmo que seja entre o nascer e o pôr-do-sol... as descobertas mais alucinantes possíveis... sou eu... sou um E.T. nessa atmosfera sem sentido em que prefiro dizer que não sou... sou um coitado atrás de uma máscara não expressiva... sou tudo isso e mais um pouco de confusão... sou loucura e fracasso... sou desejo e glória... sou amor e tristeza num intervalo curto de tempo... sou humano... un être humain... e hei de sê-lo até o fim...

Que essa música que toca me envolve e encosta lá nas profundezas do desejo que não quer ser revelado... que a lembrança de um amor verdadeiro acorda nos momentos de maior dor e solidão justamente porque o que foi fica marcado e o que não foi é esquecido... e muitos anos estão esquecidos e poucos são lembrados... porque a luta é pela sobrevivência sabendo sempre que a vivência e a evolução são consequências do tanto que conseguimos sobreviver... não... não sei de nada... sou como a lua encoberta pelas nuvens que deseja se mostrar mas que é impedida pelo acaso... nessa noite fria quase sem sentido o desejo de escrever algo que valha a pena ser escrito começa a assolar a legitimidade de alguma coisa que tem realmente um sentido... o desbloqueio deve ser trabalhado para dizer por exemplo... não espero nada de mim mesmo a não ser uma transformação substancial... mas não quero falar mais de mim e sim dessa força oculta que nasce e morre a cada vez que nos ultrapassamos... dessa força que ultrapassa como um carro que atropela o sujeito na esquina numa terça-feira qualquer às 16h... que os meus olhos clamam por beleza... que a minha alma chora pela falta de comunicação entre mim e os anjos... e entre mim e os meus eus do passado... minha alma chora de me ver fazer as mesmas coisas que só ela consegue ver... minha alma se alegra de me ver descobrindo alguma coisa, mas chora em seguida sabendo que no dia seguinte eu terei me esquecido e sobretudo porque ela sabe que esse texto não vai adiantar e não vai trazer a tona a verdade de novo a não que eu me ultrapasse mais uma vez de outra forma...  quantas vezes eu fui ultrapassado por alguma coisa e não posso deixar de fazer o trocadilho de que continuo completamente ultrapassado... porque o projeto da minha vida deve ser feito... e todos os projetos devem ser o projeto da minha vida...

que chova... que chova com raios e trovões... que o vento embale com violência as árvores... e que todas as vidas que devem ser salvas sejam salvas... é reveillon... é rito de passagem... é a dança da chuva... é o caminho que bifurca... é o desejo de dizer obrigado pela semente... é onda de som... de fúria... de ódio... de amor... de violência... de paz... de sentimentalismos bobos... sentimental... um coração saliente bate simplesmente... sem saber... porque eu amo os três pontinhos, mas às vezes é preciso colocar o ponto final. O ponto que sinaliza que acabou. Que estamos satisfeitos e que esse é o caminho escolhido, trilhado, defendido, amado e feito. É que preciso colocar um foco em mim agora... um elipso claro, seguro, à 50%... é preciso que eu me levante dos sacos e suba no alto da montanha até chegar perto da lua lá atrás... e é preciso que eu grite com toda a força dos meus pulmões associado a força de minhas pregas vocais o texto decorado... é preciso que seja muito mais do que força, vontade de acertar, vontade de não errar... é preciso que seja paixão... é preciso que seja visceral... é preciso que seja... que seja. que seja! que seja!!!

eu não sou tão apaixonado quanto você, mas queria aprender... (e eu acho que eu não devia escrever isso, mas escrevo mesmo assim, porque parece ser a mais verdadeira verdade.)

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