vazio. esvaziado. sem ar...
puxo com força o ar quente desse dia sem sentido, mais um... como tantos dias contados por Beckett.
e não me preencho.
o que me preencheria nesse dia suado?
meus olhos se fecham a procura de palavras ao mesmo tempo fugindo de lágrimas pequenas e de alguma forma doces.
a ausência se funda em diversos lugares, planos, momentos compartilhados e despartilhados na passagem do tempo.
percentual baixo de flores nessa primaveira.
porque se tem alguma coisa que floreceu, essa coisa foi meu coração... ele sim deu flores na primavera, mas assim que a flor brotou a água começou a acabar e a flor está agora murcha, murcha, murcha... vazia.
esse silêncio musical me preenche e alimenta o sorriso tímido estampado no meu rosto repleto de pêlos...
caberia a mim contar que tudo isso me assusta muito. muitíssimo. para usar superlativos que me acompanharam um pouco nesses últimos dias...
a minha vida, no entanto, não se inspira em ação pelo superlativismo...
mas o susto é grande de qualquer forma... porque o mesmo ser que compõe Adagio para G menor, mata a facadas ou dá uma surra num homem na Savassi.
porque o mesmo ser, com a mesma estrutura física, é completamente diferente em alma.
e as capacidades imaginativas e a inteligência e tudo isso pode ser absolutamente usado para coisas completamente diferentes. (eu ia dizer para o BEM ou para o MAL... mas preferi não dizer, já que isso é muito estanque, rígido, em relações que não podem ser olhadas com esse olhar)
paro.
reflito minimamente.
lembro do texto de "Oxigênio" e retomo a pergunta: "O que é o essencial para você?"
Porque aquele ser faz tudo o que faz pelo essencial, seja ele qual for.
Talvez seja exatamente esse o motivo desse vazio nesse domingo de eleições municipais... porque a eleição em si é vazia.
E com um essencial bem, bem duvidoso...
é difícil pensar nessa situação em que nos encontramos metidos, jogados... e desrespeitados...
"o poder absoluto corrompe absolutamente" já diria alguém importante na história mundial.
eu diria: qualquer poder corrompe absolutamente...
e tempo não fecha.
o tempo não grita mesmo diante do calor.
a natureza não responde.
o fim do mundo não se aproxima.
mesmo hoje sendo 28 de outubro de 2012. Faltando exatamente 53 dias para o fim do mundo.
O que você faria em 53 dias?
Eu vou trabalhar, procurar um amor, achar (rs), namorar, gastar dinheiro...
e o mundo acabaria assim: vazio.
vazio de todo sentido. vazio de toda consciência.
e se digo mundo, digo mundo mesmo... planeta terra.
estamos vivendo vazios de vida.
são tempos difíceis os tempos vazios.
porque o meu vazio só aumenta o vazio dos outros e vice-versa.
e mesmo que eu me preencha de palavras, músicas e gestos... o preenchimento é vazio.
porque me preencho com as coisas do mundo vazio.
e isso tudo já virou (ou sempre foi?) um grande ciclo vicioso.
vicioso de vazios.
por onde andará meu pensamento...
Me espanto, me assusto e me alegro com os caminhos que de vez em quando encontro nos meus pensamentos...
domingo, 28 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
o que eu poderia dizer sobre mim...
É bem verdade que dentro de algumas horas me saltarei da cadeira afoito ao receber uma mensagem de alguém que espero. Como também é bem verdade que meu coração se consumirá em agonia por uma resposta ausente ou um telefonema não atendido. Eu poderia dizer que estou certo ou errado. E que de qualquer forma estou fora do eixo. Seja para o lado bom, seja para o lado ruim (mesmo sem saber qual lado é qual).
Não estou de saco cheio de história de amor. Sei, no entanto, que a minha história ainda nem é de amor e que já estou de saco cheio dela. É porque queria me perder em alguém, queria me esconder em segredo, queria mergulhar fundo nisso que se chama "estar com alguém".
Parece até que estou na terapia. E por isso, vou guardar as palavras para do dia de amanhã...
Não estou de saco cheio de história de amor. Sei, no entanto, que a minha história ainda nem é de amor e que já estou de saco cheio dela. É porque queria me perder em alguém, queria me esconder em segredo, queria mergulhar fundo nisso que se chama "estar com alguém".
Parece até que estou na terapia. E por isso, vou guardar as palavras para do dia de amanhã...
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
O que eu poderia dizer sobre ele...
E se eu te dissesse que coloquei "Le berger" para escrever? Coloquei mesmo... Porque dentro de mim pulsa essa voz escondida, nesse dia claro, num quarto escuro, numa ideia meio assim melancólica, saudosista, apaixonada e sem saber do futuro...
Já praticamente desisti de contar histórias dos outros, uma vez que as minhas análises próprias tomam conta das minhas escritas primárias. Foco. Precisaria de foco para fazê-lo. E poderia narrar a história de um pastor de ovelhas. Eu poderia contar a história desse jovem que cuida, que na música se descuida de si mesmo, mas não gosto de histórias de suicídio, portanto o meu pastor não morrerá no final, pelo menos não por ele próprio.
Eu poderia, então, contar que ele nasceu em Sintra, Portugal. (E que não me importa saber se em Sintra existem mesmo ovelha.) Da mesma forma ele poderia ter nascido em Pontevedra, mas nasceu em Sintra, para aceitar a primeira ideia. O que importa é o que eu poderia dizer sobre ele: novo, "com fogo nas patas", cabelos embaraçados e lisos, roupas largas, nem alto nem baixo, um tanto de amor e de carinho, e muita responsabilidade. Mesmo por aquelas que não tinha por obrigação cuidar, cuidava. Não era à toa que elas queria ficar próximo dele. Às vezes até fingiam um machucado aqui outro lá para que ele as carregasse. Sempre tinha uma nos ombros. E sempre tinha dores nas costas, naquele tempo. (Hoje, não mais...)
Sabia também poucas coisas: sabia remédios naturais para as feridas, sabia prever o tempo, sabia fazer roupas, sabia suportar o silêncio e a solidão. E precisava, sempre se precisa suportar o silêncio e a solidão vez em quando... apesar de que ele o fazia constantemente.
Talvez seja bom, nesse momento da narrativa, falar sobre o amor. Já citei acima meio apressado nas definições o amor e o carinho. Isso se concretiza com a comprovação de que todas tinham nomes dados carinhosamente por ele e que apenas ele sabia diferenciar. Como se não bastasse a partir do nome de cada uma e para cada momento distinto elas ganhavam apelidos diversos, aproximadamente uns 4 apelidos para cada. Mais o nome. De um total aproximado de 50 delas. Totalizando aproximadamente 250 criações denominativas. O que denota sua atenção especial, carinho e peculiaridade que lhe valem uma história, mesmo que medíocre.
Longe dali, aproximadamente 250 km dos campos em questão, onde se encontrava o jovem também em questão, morava Laila, a jovem garota pela qual tenho o desejo de fazer com que o nosso jovem herói se apaixone, mas que não quero fazê-lo, uma vez que não desejo contar uma história de amor. Laila, era linda, 16 anos, estudiosa, simples, cabelos longos, lisos, claros... desses que marcam a imagem da pessoa quando a gente se encontra com ela pela primeira vez correndo de costas num campo de margaridas e os cabelos saltitando e balançando alegres. Vi Laila pela primeira vez assim... correndo de costas, como num filme... cantei uma música como trilha sonora e gravei na minha mente a cena com nossa atriz real. Laila. Precisamente a garota dos sonhos pela qual me apaixonaria perdidamente caso eu não soubesse que o protagonista dessa história não sou eu e sim o jovem dos campos à 250 km de distância. O jovem pastor de ovelhas, Alexandre (gostaria de chamá-lo de um nome russo, não sei porque, e aproximo esse desejo no referido nome).
Alexandre e Laila, contrariando meus desejos mais íntimos se tornarão sim um casal, mais um casal, como esses que cruzam a literatura, o cinema e as novelas de todos os tempos. Com a peculiaridade de que o farão sem jamais se conhecer, afinal, estão a 250 km de distância. Alexandre era apaixonado por estrelas. Laila também. Laila era apaixonada pela lua. Alexandre também. Ele gostava de legumes. Laila gosta de folhas. Ela gostava de frutas cítricas. Ele também. Ela era o clichê de boa menina. Ele era o clichê de bom menino. Ele terminará essa história sozinho. Ela também.
O povoado dos arredores de Aljezur se encantava com a sorte de ter Laila entre seus mais ilustre moradores. Simplesmente pela alegria e energia que emanava na vida. Ao acordar daquele sonho estranho, Laila passa pela primeira em frente a padaria do Sr. José Manoel sem dar "bom dia", fato que assusta a esposa do mesmo. Chegou a pensar, ela, a esposa, que a garota tinha tingido o lençol de vermelho pela primeira vez e estava assustada. Mas não era isso, isso não lhe causara constrangimento já que sua lhe havia prevenido com a antecedência necessária. O que aconteceu naquela noite foi o seu casamento.
O jovem no altar era novo, "com fogo nas patas", cabelos embaraçados e lisos, roupas largas, nem alto nem baixo, um tanto de amor e de carinho. Sorria com uma ovelha nos ombros, enquanto aguardava a entrada de sua noiva: Laila.
Ele havia acordado e curiosamente não tinha dado "bom dia" para Helô, a ovelha ferida da vez. Helô ficou até ofendida, mas não chegou a falar nada, pensou que poderia ser fome, a única coisa que a tirava realmente do sério. Mas não era. O motivo de tal ausência de "bom dia" tinha nome, cabelos longos, lisos e claro. Ele acordara de um sonho real.
Laila entrava na igreja com seu bouquê de margarida na mão, as mesmas margaridas que tenho gravadas no meu filme. Ele estava na altar com Helô nos ombros. Sorriam os dois, um sorriso verdadeiro de amor. Quando perceberam diziam sim, um pro outro. E logo em seguida davam o primeiro e único beijo. Ele em Sintra, ela em Aljezur. Casados, olharam para suas mãos na hora de sair da igreja e viram as alianças simples, mas que confirmavam a realização da cerimônia. Enquanto saíram da igreja se acharam jovens demais para aquilo e eram. Talvez mesmo por isso, ao abrir os olhos Laila viu que quem estava ao seu lado na cama era sua irmã caçula, Ana. E Alexandre ao abrir os olhos viu Helô, apenas Helô, aquela garota de nome Laila com quem havia se casado a pouco não estava mais ao seu lado. Onde estaria? Laila se peguntou a mesma coisa enquanto acariciava os cabelos macios de Ana, minutos antes de sua mãe lhe chamar para as primeiras tarefas matinais.
Casados, apaixonados, felizes... os jovens desta história iniciam sua trajetória ainda sem fim de se encontrar. Como? Não se sabe ao certo. Estão à 150 km de distância. Ela com 26 anos. No último verão estiveram os dois em Faro, mas apesar de toda a energia e força que os ligava deram atenção a outras coisas e acabaram por coisa de segundos não se encontrando. Do jeito que estavam também nem sei se poderiam se reconhecer. Haviam se distanciado um pouco de si mesmos e consequentemente um do outro.
Continuam apaixonados por lua, estrelas e frutas cítricas. Continuam casados um com o outro desde aquele sonho. E esperam se encontrar um dia e viver o amor que lhes foi prometido. Ou imaginado?
O que eu poderia dizer era que não eram totalmente felizes, mas tinham a alegria de serem fiéis às suas próprias vidas, desejos e amores... eram felizes por serem amorosos consigo mesmos.
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