e era assim... simplesmente dessa forma como eu tentava desesperadamente me esconder de mim mesmo... escapar das minhas entranhas... correr... brincar de esconde-esconde comigo mesmo... era assim... escrevendo... eu sentava diante da folha de papel e rabiscava ali qualquer pensamento, qualquer bobagem, qualquer coisa que me salta-se a mente... e era ali meu esconderijo mais secreto...
ali eu me achava e me escondia por várias vezes... durante horas... dias até... querendo ao máximo cumprir uma função no jogo: a de esconder... a minha mente (ativa e delirante) tratava de ser a mais cruel procuradora de homens instáveis... era assim... não só era, como ainda é...
há pouco quando cheguei do mundo lá fora, me vi instável, inseguro, arrombado... como se tivessem tirado de mim algo indispensável... que desestabiliza... que incomoda e que até (pausa)... até dói... e foi há pouco quando pensei que deveria desesperadamente encontrar o que havia perdido... mais uma vez num jogo de esconde-esconde... onde eu era o procurador. mas enquanto isso... a cruel procuradora insistia em me achar... ativa e delirante... sempre ela... me impediando que ultrapassasse qualquer coisa...
e há pouco eu chorei... porque me via num buraco sem saída. num poço profundo e sem luz, que com a chuva lá fora começava a encher devagar, até... (pausa) é duro pensar... sempre é duro pensar... é assim... duro... cruel... agressivo com nós mesmo... e agora depois de chorar: penso.
e penso que quem pensa sou eu... e disparo a tentar controlar infinitamente os meus escritos, as minhas palavras... com palavras esperançosas para um possível leitor, com palavras de amor, de luta, de auto-controle... tento até dar uma receita de como se esconder melhor uma situação como essa... se controlando os pensamento, se deixando-os passar, se parando de pensar, se... (pausa) se... (pausa) se... (longa pausa)
mas eu não dou conta! dou conta sim de dizer que é difícil, que é doloroso e que é cruel pensar... e que eu queria por um momento na vida parar de pensar... sim eu queria ser como um animal irracional... para não me maltratar, para não me machucar, para não me ferir... porque ninguém me fere mais nessa vida do que eu mesmo... tudo porque eu penso... e é inevitável pensar... é inevitável... (pausa) e quando paro como numa pausa, não porque há ausência de pensamentos... NÃO. é porque há tantos pensamentos que não é possível ordená-los... não é possível descrevê-los... e é por isso... que se torna ainda mais dolororoso esse jogo de esconde-esconde... nada parecido com os meus divertidos e longos jogos de esconde-esconde na rua com meus amiguinhos... ou seria até melhor se fosse como nos meus pesadelos, em que, apesar de tudo, eu nunca era encontrado...
e é assim... cheio de pensamentos que não consigo mais escrever... que não consigo mais esconder de mim mesmo... simplesmente meus métodos de camuflagem foram identificados pela "ativa e delirante"... e eu paro de escrever... não que os pensamentos tenham parado, mas é que já não consigo fugir de mim mesmo assim... mas fica uma coisa... quando é que os pensamentos param? quando é que...? quando? qnd? q? ?
(eu tento mas eles não param.)